A arteterapia como prática complementar e integrativa para o tratamento de pessoas com câncer
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A arteterapia como prática complementar e integrativa para o tratamento de pessoas com câncer

A arteterapia é uma prática terapêutica que busca o autoconhecimento e o tratamento de condições mentais e emocionais por meio da arte. Trata-se de uma abordagem que utiliza a criatividade como recurso para promover a cura emocional e o autodesenvolvimento.

A arte e o (verbo) “ser” humano

Desde os primórdios da humanidade, a arte tem sido uma forma de expressão intrínseca à nossa existência. As primeiras manifestações artísticas, como as pinturas rupestres encontradas em cavernas ao redor do mundo, são testemunhos de nossa necessidade inata de comunicar nossas experiências, emoções e percepções do mundo.

A arte é uma linguagem universal que transcende fronteiras culturais e temporais. Ela se manifesta de inúmeras formas, e cada uma oferece um meio único de expressão e comunicação, permitindo-nos compartilhar e explorar a complexidade da experiência humana.

A arte que revela quem somos e o que desejamos

Uma prateleira com tintas, pinturas coloridas, pincéis e livros

A forma como uma sociedade se expressa artisticamente informa quem somos e o contexto social em que vivemos. Ela reflete nossos valores, crenças, esperanças, medos e sonhos. A arte pode ser um espelho que reflete a realidade, mas também pode ser uma janela para mundos imaginários. Ela pode nos desafiar, inspirar,  confortar e provocar. A arte tem o poder de fazer pensar, sentir e ver o mundo de novas maneiras.

A expressão de nossa criatividade através da arte é uma das maneiras mais profundas e significativas de nos conectarmos com nós mesmos e com os outros. Ela nos permite explorar e expressar nossos pensamentos e sentimentos mais íntimos, e nos ajuda a entender e apreciar a diversidade e a complexidade da experiência humana.

Origem e evolução da arteterapia

A arteterapia surgiu na década de 1940, cunhada pelo artista britânico Adrian Hill. No entanto, a prática terapêutica que utiliza a arte como base vem sendo pesquisada e aplicada desde o século XIX. 

Adrian Hill e o surgimento da arteterapia

Adrian Hill, o pioneiro da Arteterapia pintando. imagem preto e branco.

Hill descobriu os benefícios psicológicos do desenho e da pintura enquanto se recuperava da tuberculose em um sanatório. Ele observou que os pacientes que se envolviam em atividades artísticas experimentavam menos sofrimento e mostravam sinais de recuperação emocional e mental. Este fenômeno levou à adoção da arteterapia em hospitais psiquiátricos e outras instituições em toda a Europa.

A arteterapia no século XIX

Embora a arteterapia como a conhecemos tenha surgido na década de 1940, a prática terapêutica que utiliza a arte como base vem sendo pesquisada e aplicada desde o século XIX. Em 1876, o psiquiatra Max Simon analisou pinturas de pacientes e classificou-as de acordo com as patologias que eles apresentavam. Outros médicos europeus também se interessaram pelas expressões artísticas dos doentes, incluindo Morselli (1894), Júlio Dantas (1900) e Fusac (1900).

Carl Gustav Jung e a arteterapia

Jung sentado em seu escritório com um cachimbo em uma das mãos

Carl Gustav Jung, um psicólogo que utilizava a expressão artística em seu consultório, foi uma das principais influências para o surgimento da arteterapia. Jung considerava a imaginação como uma das principais funções da psique, a expressão direta da atividade vital e a única forma pela qual a energia psíquica se manifesta na consciência.

Ele acreditava que a criatividade tem uma função psíquica natural, estruturante. Na década de 1920, Jung começou a utilizar a linguagem expressiva como forma de tratamento em sua prática clínica, pedindo aos clientes que fizessem desenhos livres, imagens de sentimentos, de sonhos, de situações conflituosas ou outras. Ele priorizava a expressão artística e a verbal como componentes de cura.

A arteterapia no Brasil

Em 1923, Osório César, interno do Hospital Juqueri no Rio de Janeiro, iniciou estudos sobre as artes dos pacientes, dando os primeiros passos sobre o uso da arte como forma de expressão e cura. Em 1925, a Escola Livre de Artes Plásticas foi fundada no Hospital Juqueri, marcando um importante passo na integração da arte no contexto terapêutico.

Pintura feita por ex-paciente do Complexo Hospitalar do Juquery. Aurora Cursino dos Santos. Óleo sobre papel.

A arteterapia teve seu início formal com a atuação de Margarida Carvalho, cuja formação no campo se deu a partir de um curso de extensão em arteterapia com Hanna Kwiatkowska na PUC-SP, em 1964. Ela seguiu seus estudos de forma independente, com atuação posterior na área.

O pioneirismo e o legado de Nise da Silveira

Neste contexto, é importante destacar o trabalho pioneiro da Dra. Nise da Silveira. Radicalmente contrária às intervenções clínicas consideradas violentas, como o confinamento e a eletroconvulsoterapia, Nise foi pioneira ao introduzir, no Brasil, a terapia ocupacional baseada em expressões artísticas.

Nise da Silveira em frente a uma pintura

Seu legado segue como uma das mais belas e potentes contribuições para o entendimento do inconsciente humano. Ela reformulou os moldes da psiquiatria e as práticas terapêuticas no Brasil, sendo precursora da reforma psiquiátrica. Além disso, foi uma importante difusora da teoria junguiana.

Os pilares da arteterapia

A arteterapia é baseada na ideia de que o processo criativo pode ser terapêutico e curativo. Ela é usada para ajudar as pessoas a explorar suas emoções, melhorar a autoestima, gerenciar comportamentos e vícios, desenvolver habilidades sociais, melhorar a realidade, reduzir a ansiedade e aumentar a autoconsciência.

Alguns aspectos-chave da arteterapia

  • Autoconhecimento: A arteterapia ajuda os indivíduos a entenderem melhor seus sentimentos e comportamentos, promovendo o autoconhecimento. Por meio da criação artística, os indivíduos podem explorar suas emoções e pensamentos de uma maneira não verbal.
  • Tratamento de condições mentais e emocionais: A arteterapia é usada no tratamento de uma variedade de condições mentais e emocionais, incluindo depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), e muito mais. Ela oferece uma forma de expressar emoções que podem ser difíceis de verbalizar.
Master class de arteterapia. Crianças desenham com tintas
  • Cura emocional: A arte tem o poder de curar. O processo de criar arte pode ser terapêutico por si só. Ele permite que os indivíduos expressem e liberem emoções reprimidas, proporcionando uma forma de catarse.
  • Desenvolvimento pessoal: A arteterapia não é apenas sobre tratar condições mentais e emocionais. Ela também é sobre promover o crescimento e o desenvolvimento pessoal. Através da arte, os indivíduos podem explorar sua identidade, desenvolver novas habilidades, e cultivar um maior senso de autoestima e autoconfiança.

Arteterapia como tratamento complementar em pacientes oncológicos

A arteterapia permite que os pacientes oncológicos expressem suas emoções e sentimentos de maneira não verbal. Ela tem se mostrado eficaz na melhora da qualidade de vida de pessoas com câncer, ajudando no alívio do estresse, ansiedade e na diminuição do tempo ocioso durante o tratamento.

Prática pesquisada e de resultados comprovados

Escolhendo cores para criar cerâmica artesanal na arteterapia

No Brasil, a arteterapia é reconhecida como uma abordagem terapêutica que utiliza a expressão artística como forma de promover a saúde emocional e psicológica dos indivíduos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou um relatório que conclui que o envolvimento com a arte pode ser benéfico para a saúde mental e física.

A pesquisa analisou evidências de mais de 900 publicações globais e foi a análise mais abrangente sobre o assunto até o momento. A OMS destaca que algumas intervenções artísticas não apenas produzem bons resultados, mas também podem ser mais econômicas que os tratamentos biomédicos comuns.

Aplicação no ambiente hospitalar

Um estudo conduzido por acadêmicas de Enfermagem da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e da Universidade Federal de Goiás (UFG), bem como da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás), sugere o uso da arte como instrumento psicoterapêutico no ambiente hospitalar.

Mulher jovem e bonita relaxando enquanto pinta uma tela de arte ao ar livre em seu jardim. Sobrevivente de câncer, atenção plena, terapia de arte, conceito de criatividade.

A pesquisa foi realizada com 10 pacientes diagnosticados com doenças onco-hematológicas, utilizando seis obras da artista mexicana Frida Kahlo. Segundo os resultados, a prática favorece o contato com conteúdos intrapsíquicos e fortalece as funções egóicas e os processos de enfrentamento da doença.

O impacto na saúde mental de pacientes oncológicos

A pesquisa realizada pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL) em parceria com o Núcleo de Saúde Pública (NUSP) da Faculdade de Medicina (FAMED) e o Centro de Oncologia (CACON) do Hospital Universitário Professor Alberto Antunes (HUPAA) é um exemplo significativo do impacto positivo da arteterapia na saúde mental. Os resultados do estudo indicaram que a arteterapia proporciona bem-estar, diminui o estresse e a ansiedade, e torna o processo de tratamento mais leve e humanizado.

Reconhecimento de instituições de referência

Centros de tratamento oncológico de referência reconhecem a importância da arteterapia como parte integrante do tratamento do câncer. 

  • Dana Farber Cancer Institute: Afiliado à Harvard Medical School, este instituto é um dos principais centros de tratamento e pesquisa em câncer no mundo.
fachada do Johns Hopkins Hospital
  • Johns Hopkins University: Localizada em Baltimore, Maryland, esta universidade é conhecida por seu programa de oncologia de renome mundial.
  • Memorial Sloan-Kettering Cancer Center: Localizado em Nova York, este centro é um dos líderes mundiais em pesquisa e tratamento de câncer.
  • Mayo Clinic: Com várias localizações nos Estados Unidos, a Mayo Clinic é reconhecida por sua abordagem centrada no paciente e por sua excelência em cuidados oncológicos.

A arteterapia no Instituto OncoYart: uma abordagem terapêutica para pacientes com câncer

No Instituto OncoYart, acreditamos no poder curativo da arte. Reconhecemos que o processo criativo envolvido na criação da arte pode ser uma fonte de cura e melhoria da vida. A obra de arte torna-se a representação visual das experiências de nossos pacientes, cuidadores ou familiares.

No OncoYart, oferecemos a oportunidade para pacientes e cuidadores lidarem criativamente com o impacto de um diagnóstico de câncer através da arteterapia. Incentivamos nossos pacientes, cuidadores e familiares a usar o processo de trabalho com os materiais para comunicar suas experiências emocionais e psicológicas.

Porta aberta de sala de arteterapia da OncoYart

Nossas técnicas de arteterapia são adaptadas para atender às necessidades individuais de cada paciente durante o tratamento ou durante uma sessão agendada individualmente. Através da arteterapia, apoiamos nossos pacientes na abordagem de questões que podem incluir:

  • Alterações na imagem corporal devido ao tratamento
  • Aceitar sentimentos de perda e isolamento
  • A capacidade de lidar com a doença
  • A liberação emocional da ansiedade
  • A perda da sensação de bem-estar
  • A gestão da dor e outros sintomas físicos

No OncoYart, reconhecemos que o envolvimento na expressão artística incentiva uma consciência contínua do bem-estar pessoal, ao mesmo tempo em que fornece apoio emocional e psicológico ao paciente e à família. Não é necessária experiência prévia com materiais artísticos ou técnicas artísticas.

Qualquer paciente, independentemente da idade ou diagnóstico, pode se beneficiar dos aspectos positivos da expressão artística. As sessões são adaptadas às necessidades individuais do paciente, cuidador ou membro da família e geralmente variam de 60 a 90 minutos.

Benefícios que a arteterapia pode oferecer

Workshop de pintura em aquarela. arte-terapia. aulas ou cursos de pintura. conceito de criatividade.
  • Expressão e comunicação de sentimentos: A arteterapia ajuda os pacientes a expressar sentimentos que podem ser difíceis de verbalizar. Isso pode ser particularmente útil para pacientes com câncer, que podem estar lidando com uma variedade de emoções complexas.
  • Exploração da imaginação e criatividade: A arte permite aos pacientes explorar sua imaginação e criatividade, o que pode proporcionar uma distração bem-vinda dos desafios do tratamento do câncer.
  • Promoção da saúde mental: A arteterapia pode ajudar a melhorar a saúde mental dos pacientes, reduzindo o estresse e a ansiedade e promovendo o equilíbrio emocional.
  • Aumento da autoestima: A criação de uma obra de arte pode proporcionar um senso de realização e propósito, o que pode melhorar a autoestima e a confiança.
  • Contribuição para a concentração, atenção e memória: A arte pode ajudar a melhorar a concentração, a atenção e a memória, o que pode ser particularmente útil para pacientes que estão lidando com os efeitos colaterais do tratamento do câncer.
  • Fuga relaxante: A arteterapia proporciona uma fuga relaxante, o que contribui para a redução da ansiedade e do medo.
Grupo de arteterapia do Instituto OncoYart

No Instituto OncoYart, vemos a arteterapia como uma ferramenta poderosa que pode ajudar nossos pacientes com câncer a lidar com os desafios emocionais e psicológicos associados ao diagnóstico e tratamento do câncer. Se você deseja saber mais sobre esta ou outras terapias oferecidas, entre em contato!

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